08 outubro, 2012
Solange Farkas, importante
curadora internacional, fundadora do Vídeo Brasil, de Feira de Santana, ex-
Diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia, numa postagem no facebook nos
conclamava a acordar sobre a realidade política baiana E A situação de abandono
dramático. Cumpria o movimento que muitos deflagaram no desejo da deposição do
atual prefeito de Salvador. Por tal motivo escrevi este texto desbafo,
contrariando o movimento que cresce a cada dia na forma de FORA JOÃO HENRIQUE!
18 fevereiro, 2012
28 outubro, 2011
Sou leitor e ouvinte da jornalista Dra. Malu Fontes. Gosto muito de suas reflexões embora aqui e ali tenha algumas dificuldades com certos posicionamentos dela. Em CADA TEMPO TEM O FREAK SHOW QUE MERECE por exemplo, me parece uma conclusão urdida pela "camisa de força" do poiíticamente correto. Me lembro a propósito, de um dos filmes BATMAN, em que Jack Nicholson protagoniza o Coringa na cena em que pixa quadros de um museu de arte. Quando se defronta com a fealdade de uma pintura de Francis Bacon, diz cinicamente: esse eu gosto.É como se levantasse romanamente o polegar para cima, deixa incólume a obra de Bacon: a sanidade de um psico contemporâneo, talvez amem tanto o Coringa pela loucura que nos ronda. Muitos setores da arte contemorânea têm muito deste conceito de freak show, Vejam o Tubarão, as vacas e os porcos de Damien Hirst, ou as pinturas de sexo explícito de Jeff Koons e Cicciolina, na época sua esposa, ou toda sorte de escatologia e violência contidas ao longo da história humana em todos os setores da produçao cultural. Malu já viu alguma exposição de objetos de tortura da inquisição? Tais objetos em conjunto me afligiram ao ponto de sair da mostra com somatizações de pânico. Circos como o MMA, o K1, conhecidos genéricamente como VALE TUDO e outras modalidades do gênero são como espetáculo correlatos `a idéia romana inscrita na arena, mas jamais podemos estabelecer uma paridade da crueldade sabida históricamente, com o que se promove hoje com homens atletas que trabalham seus corpos sob a juridisção da ciência médica, e da ética em ringue, e de profissionais que se espraiam ao cuidado absoluto com o corpo destes atletas. Considerar também que numa luta destas modalidades ninguém decide com o polegar a glória ou a morte de um vencedor ou perdedor. Nomes como a família Gracie que revolucionaram o esporte como uma espécie de enxadrismo corporal, Minotauro, Glaube Feitosa, Mauricio Shogun, Cigano e tantos outros brasileiros são lendários lutadores internacionais que gozam de representatividade global que o pobre rico Luciano Huck jamais atingirá. Um atleta como Anderson Santos dançando com Marisa Monte abre visibilidades a ela em nichos globais que ela jamais atingiria com as especificidades geo-politicas da arte que faz. As piores violências de nosso mundinho contemporâneo são exercidas sob o cinismo, a hipocrisia moral e ética urdidas no que chamo de "CONCÍLIO DE WASHINGTON" a igreja comportamental produzida pelos americanos regrando nossas liberdades em inúmeros setores, Dra. Malu já discorreu sobre muitas delas, eu, como fumante sou uma destas vítimas em meus rituais de café expresso no Shopping Barra, para em seguida sorver meu tabaco. Fomos expulsos - os fumantes - para a entrada do shopping num cantinho acanhado, com direito a uma duvidosa gentileza de nos disponibilizar uns puffs de couro sintético onde fumávamos com cara de tacho, olhando inevitavelmente um para o outro nos forçando `a mimetização de nos transformar em puffs como saída de abstração evitando o constragimento nas notações sôbre o OUTRO como estratégia de evasão do feed back do quanto somos ridículos. Hoje não temos puffs, fumamos com um pé no meio fio outro no asfalto. Isso é uma contra violência paradoxal exercida pelo capitalismo a consumidores que movimentam bilhões de dólares, mas somos párias sob a égide da ”moral de jegue” que vitimiza nosotros todos americanos ocidentais; a outros povos de estranhas culturas - se tiver petroleo perto lhes endereçam mísseis, a felicidade é relativa.
Mas voltando `a violencia dos octógonos Malu Fontes parece uma texana quando compara uma tourada ou briga de galo com seus gadgets de aço em busca do letal, com o jogo tácito das lutas de MMA e K1. O afeto e humor destes artistas da luta surpreendem os desavisados quando vistos nos bastidores, é certo que sempre tem um destemperado como Badr Hari, marroquino que sou fã como lutador, mas que precisa de algumas dezenas de sessões num divâ lacaniano pra mudar sua estrutura psicologica por vezes descontrolada. De resto, lembrar que que portamos sistema límbico e Complexo R: estruturas biológicas básicas semelhantes a qualquer animal, que contidas pelo nosso Neo-Cortéx inventor de Deus, da cultura, da política e seus sintomas reativos que historicamente nos devolve `a condição reptílica de modo coletivo produzindo o equilíbrio populacional do planeta em ringues mais amplos. Nos octógnos há sangue, é certo, mas raramente se assiste as animosidades que encontramos cotidianamente nas ruas de Salvador. Malu, continuo seu fã.
18.10.2011
08 outubro, 2011
More than a festival, it’s a platform, a celebration Interview with Solange Farkas, Videobrasil director By Haupt & Binder
<< back
More than a festival, it’s a platform, a celebration
Interview with Solange Farkas, Videobrasil director
By Haupt & Binder
Binder & Haupt: The upcoming SESC_Videobrasil Festival is announced as having two main parts: the large exhibition of art from the geopolitical South, and several installations by the Berlin-based Danish/Icelandic artist Olafur Eliasson. How do they relate to each other?
Solange Farkas: The Southern Panoramas exhibition, the "festival access", will feature artists who have been selected from submissions from Latin America/the Caribbean, Africa, Asia, the Middle East, Eastern Europe, and Oceania. Alongside Southern Panoramas, we have a solo exhibition by Olafur Eliasson, his first in South America. It’s a choice that has to do with the change in the scope of the competitive show, once devoted exclusively to video and video art and now open to all contemporary artistic manifestations and practices. Eliasson is an artist whose practices go way beyond all language limitations and whose work imposes itself as a sensory experience accessible to all audiences. We have always felt the need for more dialogue between South and North. To invite artists like Olafur Eliasson, or Bill Viola, or Bruce Naumann, or Sophie Calle to show their work alongside artists from the South is important for us because it stimulates this dialogue. But the whole strategy of SESC_Videobrasil is focused on the artists from the South.
We understand the festival as a kind of window, a showcase for artistic production from the South. When we started it 25 years ago, of course the first thing we had in mind was to present Brazilian artists. As the Festival became better known and bigger, in the early 90s, we started to consider inviting international artists; but we knew it would be a mistake to restrict ourselves to the American & European circuit. It made no sense. The São Paulo Biennale has always been very strong and a reference for the international production.
Binder & Haupt: One of the first questions that comes up is precisely about the main difference between SESC_Videobrasil and the São Paulo Biennale, both taking place in the same city. Of course your history is completely different from that of the Biennale. But now, the new approach of SESC_Videobrasil, whose internal logic is drawn from the fact that video and new media are incorporated in and mixed with all other disciplines of art, will raise such questions, and this also in terms of the Southern focus, which somehow can be observed in the São Paulo Biennale as well, for example in the 2006 edition.
Solange Farkas: The main difference is that SESC_Videobrasil has a commitment to the South from the very beginning, to make the production of artists from these regions better known. And of course by making it more visible, the idea is to attract the attention of the North, to help insert this production in a broader circuit, but as a "via dupla", a two-way road: expanding the circuit in the Southern direction and strengthening the circuit of the South for this encounter. We strive to contribute to balancing this dialogue, because the production of these regions doesn't have enough of what we call "protagonism". The idea is to give them more protagonism in this festival.
It would make no sense to organize such a large event of contemporary art in Brazil - in the South - with, for example, a Eurocentric perspective. Of course our interest is to look around us, to look for the production of art that is being done, and also to look for like-minded partners in the world.
The festival has always worked in the direction of not being only an event. In the period between events, it is also a source of actions, opportunities, partnerships, and policies, involving the government, involving other institutions, and of course, the artists, curators, and researchers to help make the circuit grow stronger, like with the residency program, the production of documentaries on artists, etc. This year, besides of the competitive show, we are commissioning four young artists living in São Paulo to develop works in residency that will be shown at the festival alongside the Southern Panoramas.
It is different to do this kind of platform here from doing it - let's say - in Europe, because we don't have such a good infrastructure for arts and culture from the government: the grants and subsidies, for example. So, although the event is every two years, we do different things in between. We do publications, organize small shows, a lot of conferences and meetings, produce documentaries about artists, try to improve our network in the Southern circuit and establish partnerships with colleagues in other places. I prefer to describe SESC_Videobrasil as a platform, but of course it’s a real festival, with lots of things happening. It's a celebration, too, because we invite all the artists to come here, to stay together, to work, but also to have a good time together. You will see, that the whole program is a kind of madness.
Binder & Haupt: Will you continue with the open submission call for the next editions as well? Because this is also something very different from the usual Biennales, where the curators just choose from what they know or what colleagues recommend. With an open call, you reach out to artists who are not yet known in the art scene.
Solange Farkas: Yes, for many reasons the submission system will be kept. It is definitely more democratic. And one has to keep in mind that many of these regions are very hard to reach and get to know. And we are not talking only about Africa. Even in Brazil, you can't depend only on research for the curatorial decision. It's a way of bringing in artists who otherwise wouldn't be found. We are a reference not only in Brazil, also in South America and the Middle East, especially for artists working at the confluence of art and technology.
Binder & Haupt: Will you keep special attention on technology and new media in the arts, even though the approach from now on will be broader?
Solange Farkas: Not necessarily. Historically the festival has been identified with video. This is related to the genesis of the festival, but things have been changing in the last 25 years, we've had interactive works, media works, installations, etc. But what we see today in every important art event is that video has a supremacy among the tools that are being used by artists. We didn't privilege works involving video in this year's selection, but we had a lot of video entries, even from artists who don't usually work with video (painters and sculptors). So we'll have a lot of videos in the exhibition indeed. But this doesn't mean that the festival will continue to be a platform restricted to a ghetto of video and art & technology people. Video has become a common tool and has taken its place. So, the Festival feels that this role has been fulfilled - this war has been won. Especially here.
Resistance to video was very strong 25 years ago. I remember, that in institutions and museums it really was like a kind of war. I was the director of the Museum of Modern Art of Bahia for four years, and there was a big gap between video and the visual arts. Here in São Paulo it is more or less like in Europe, Japan, or the US, but if you go for example to the North of Brazil, video is still a new strange tool, and the "real" visual arts are just painting and sculpture. I struggled hard to change this conception.
Binder & Haupt: What will be the themes of the discussion panels at the Festival's symposium this year? And how will it work?
Solange Farkas: The discussions will focus a number of themes, including residency programmes and their role in the contemporary production. And we'll have a Seminar devoted to the particularities of the Southern circuit. It will have a new format, with four different panels, one each month of the festival from September to December. The panels will be based on four thematic axes: art as a territory for learning; institutions at the margin of networks; curatorial propositions for the South; and editorial intentions. Each session will feature two case studies, whose function is to illustrate different dimensions of the subject matters; a guest participation in video; a mediator; and a debater, who will summon up the set of issues presented into one critical proposal.
Haupt & Binder
Gerhard Haupt and Pat Binder. Publishers of Universes in Universe - Worlds of Art; co-publishers and editors-in-chief of Nafas Art Magazine. Based in Berlin, Germany.
© Interview: Gerhard Haupt & Pat Binder
print version
More than a festival, it’s a platform, a celebration
Interview with Solange Farkas, Videobrasil director
By Haupt & Binder
Binder & Haupt: The upcoming SESC_Videobrasil Festival is announced as having two main parts: the large exhibition of art from the geopolitical South, and several installations by the Berlin-based Danish/Icelandic artist Olafur Eliasson. How do they relate to each other?
Solange Farkas: The Southern Panoramas exhibition, the "festival access", will feature artists who have been selected from submissions from Latin America/the Caribbean, Africa, Asia, the Middle East, Eastern Europe, and Oceania. Alongside Southern Panoramas, we have a solo exhibition by Olafur Eliasson, his first in South America. It’s a choice that has to do with the change in the scope of the competitive show, once devoted exclusively to video and video art and now open to all contemporary artistic manifestations and practices. Eliasson is an artist whose practices go way beyond all language limitations and whose work imposes itself as a sensory experience accessible to all audiences. We have always felt the need for more dialogue between South and North. To invite artists like Olafur Eliasson, or Bill Viola, or Bruce Naumann, or Sophie Calle to show their work alongside artists from the South is important for us because it stimulates this dialogue. But the whole strategy of SESC_Videobrasil is focused on the artists from the South.
We understand the festival as a kind of window, a showcase for artistic production from the South. When we started it 25 years ago, of course the first thing we had in mind was to present Brazilian artists. As the Festival became better known and bigger, in the early 90s, we started to consider inviting international artists; but we knew it would be a mistake to restrict ourselves to the American & European circuit. It made no sense. The São Paulo Biennale has always been very strong and a reference for the international production.
Binder & Haupt: One of the first questions that comes up is precisely about the main difference between SESC_Videobrasil and the São Paulo Biennale, both taking place in the same city. Of course your history is completely different from that of the Biennale. But now, the new approach of SESC_Videobrasil, whose internal logic is drawn from the fact that video and new media are incorporated in and mixed with all other disciplines of art, will raise such questions, and this also in terms of the Southern focus, which somehow can be observed in the São Paulo Biennale as well, for example in the 2006 edition.
Solange Farkas: The main difference is that SESC_Videobrasil has a commitment to the South from the very beginning, to make the production of artists from these regions better known. And of course by making it more visible, the idea is to attract the attention of the North, to help insert this production in a broader circuit, but as a "via dupla", a two-way road: expanding the circuit in the Southern direction and strengthening the circuit of the South for this encounter. We strive to contribute to balancing this dialogue, because the production of these regions doesn't have enough of what we call "protagonism". The idea is to give them more protagonism in this festival.
It would make no sense to organize such a large event of contemporary art in Brazil - in the South - with, for example, a Eurocentric perspective. Of course our interest is to look around us, to look for the production of art that is being done, and also to look for like-minded partners in the world.
The festival has always worked in the direction of not being only an event. In the period between events, it is also a source of actions, opportunities, partnerships, and policies, involving the government, involving other institutions, and of course, the artists, curators, and researchers to help make the circuit grow stronger, like with the residency program, the production of documentaries on artists, etc. This year, besides of the competitive show, we are commissioning four young artists living in São Paulo to develop works in residency that will be shown at the festival alongside the Southern Panoramas.
It is different to do this kind of platform here from doing it - let's say - in Europe, because we don't have such a good infrastructure for arts and culture from the government: the grants and subsidies, for example. So, although the event is every two years, we do different things in between. We do publications, organize small shows, a lot of conferences and meetings, produce documentaries about artists, try to improve our network in the Southern circuit and establish partnerships with colleagues in other places. I prefer to describe SESC_Videobrasil as a platform, but of course it’s a real festival, with lots of things happening. It's a celebration, too, because we invite all the artists to come here, to stay together, to work, but also to have a good time together. You will see, that the whole program is a kind of madness.
Binder & Haupt: Will you continue with the open submission call for the next editions as well? Because this is also something very different from the usual Biennales, where the curators just choose from what they know or what colleagues recommend. With an open call, you reach out to artists who are not yet known in the art scene.
Solange Farkas: Yes, for many reasons the submission system will be kept. It is definitely more democratic. And one has to keep in mind that many of these regions are very hard to reach and get to know. And we are not talking only about Africa. Even in Brazil, you can't depend only on research for the curatorial decision. It's a way of bringing in artists who otherwise wouldn't be found. We are a reference not only in Brazil, also in South America and the Middle East, especially for artists working at the confluence of art and technology.
Binder & Haupt: Will you keep special attention on technology and new media in the arts, even though the approach from now on will be broader?
Solange Farkas: Not necessarily. Historically the festival has been identified with video. This is related to the genesis of the festival, but things have been changing in the last 25 years, we've had interactive works, media works, installations, etc. But what we see today in every important art event is that video has a supremacy among the tools that are being used by artists. We didn't privilege works involving video in this year's selection, but we had a lot of video entries, even from artists who don't usually work with video (painters and sculptors). So we'll have a lot of videos in the exhibition indeed. But this doesn't mean that the festival will continue to be a platform restricted to a ghetto of video and art & technology people. Video has become a common tool and has taken its place. So, the Festival feels that this role has been fulfilled - this war has been won. Especially here.
Resistance to video was very strong 25 years ago. I remember, that in institutions and museums it really was like a kind of war. I was the director of the Museum of Modern Art of Bahia for four years, and there was a big gap between video and the visual arts. Here in São Paulo it is more or less like in Europe, Japan, or the US, but if you go for example to the North of Brazil, video is still a new strange tool, and the "real" visual arts are just painting and sculpture. I struggled hard to change this conception.
Binder & Haupt: What will be the themes of the discussion panels at the Festival's symposium this year? And how will it work?
Solange Farkas: The discussions will focus a number of themes, including residency programmes and their role in the contemporary production. And we'll have a Seminar devoted to the particularities of the Southern circuit. It will have a new format, with four different panels, one each month of the festival from September to December. The panels will be based on four thematic axes: art as a territory for learning; institutions at the margin of networks; curatorial propositions for the South; and editorial intentions. Each session will feature two case studies, whose function is to illustrate different dimensions of the subject matters; a guest participation in video; a mediator; and a debater, who will summon up the set of issues presented into one critical proposal.
Haupt & Binder
Gerhard Haupt and Pat Binder. Publishers of Universes in Universe - Worlds of Art; co-publishers and editors-in-chief of Nafas Art Magazine. Based in Berlin, Germany.
© Interview: Gerhard Haupt & Pat Binder
print version
11 setembro, 2011
TWINS
Twins - Resina e lente fotográfica. 2010
Hoje, dia 11 de setembro, dez anos do atentado contra as torres gêmeas, o Word Trade Center em Nova Yorque,
Este foi um fato estarrecedor para todos, especialmente para mim como artista visual, que naquele
dia fui acordado `as 10 horas da manhã pela minha amiga e psicanalista Jacinta Ferraz, me
sugerindo dramaticamente que ligasse a tv. O fiz ali mesmo na cama sob os efeitos de algumas
garrafas de vinho consumidas na madrugada do dia. Me defrontei com as imagens num misto de
incerteza pelo torpor do sono e os efeitos de Baco. Pensei tratar-se de de imagens ficcionais que
lhe interessava (Jacinta) falar - como fazemos sempre - e muito das nossas conversas sobre cultura
ou psicanalise de extensão a qual ela me subsidia de importantes conceitos sobre o estruturalismo
de Jacques Lacan.
Quando percebi o significado grave do que assistia, rumei `as pressas para casa de Jacinta que
demandava apenas atravessar a avenida Centenário, e lá continuei a assistir as intermitentes imagens
transmitidas pela CNN via Globo, tomando café e pão de queijo quando presenciamos em tempo real, o alboroamento do segundo avião.
Aquelas imagens eram estarrecedoras, ao mesmo tempo possuíam algo de sublime, como a erupção de um vulcão - como o Vesuvio que destruiu Pompeia, ou as reações em cadeia das seis torres de usinas nucleares recentemente ocorridas no Japão.
O que nos atrai para as assombrosas produções hollywoodianas sobre gigantescos maremotos provocados por gigantes asteroides que se abatem sobre nosso planeta, ou o repentino desaparecimento dos dinossauros? Porque as grandes tragédias possuem este atrativo, o que nos faz ter essa relação pelo horror, esse pendor para um certo prazer oculto, misturado ao espanto, ao medo, a uma espécie de flerte com a morte como expectador de tragédias reais e virtuais? E, nestes tempos em que as distancias são diluídas e as imagens reproduzidas incansavelmente no instante presente - o que nos torna assíduos aficionados de um teatro de horrores montado a altos custos ao tempo que geram muito mais altos lucros? Estas respostas no plano simbolico estão entrelaçadas de algum modo `a fuga de nossa finitude, `a condição humana em sua relação com a morte toscamente elaborada. Espetacularizar uma guerra, como a do Golfo, associando-a `as virtualizações de um viedeo-game é no mínimo sublimar os horrores de ocorrências in loco encarando uma tragédia como um espetáculo vislumbrado pela morbidez já anunciada pelo gosto romano no circo das arenas e seus gladiadores.
Desde As Cruzadas e Saladino, a contenda cristã-mulçumana tem produzido terríveis efeitos no currículo humanitário das civilzações e suas diferenças culturais. Mas a supremacia do progresso ocidental e sua orientação do lucro como pensamento ordenador de uma civilização que tenta pasteurizar o mundo pelo poder do lucro e o cajado da democracia, tem produzido terríveis distorções políticas, culturais e religiosas. Vale ressaltar que esta abordagem sobre tais assuntos não passam de uma simplificação, reducionismo que não quer elucidar as complexidades que o tema demanda. Apenas me posiciono como artista que sofreu os efeitos do 11 de setembro como um fator paradigmático que mudou em muitos sentidos o curso do que produzo.
Como artista, meu pensamento sobre o mundo sofreu um deslocamento importante. Produzo há dez anos ininterruptamente imagens, esculturas, textos, e toda espécie de mídia que me permita reflexões sobre este estado de intolerância que se abate sobre o mundo em nome das diferenças religiosas, territorialidade, politica e economia.
Com o fim das polaridades ideológicas Russia/EUA, nasceu o que chamo ironicamente de Concílio de Washington onde surge as orientações da cartilha da globalização, uma potente camisa de força embutida na idéia de progresso disseminado ao planeta como uma promessa remissiva dos problemas sócio - economicos do mundo. Assistimos a radicalização da idéia de progresso que em realidade sancionou a lucratividade especulativa de poucos. Ao resto do mundo sobrou as repressões crescentes dos ideários do politicamente correto cobrando um alinhamento ecológico e comportamental cujas orientações nenhum país rico sanciona sua inclusão nas próprias recomendações.
Do ponto de vista da cultura, a máxima de Fukuyama traduz de certa maneira a arrogância inscrita na idéia da globalização. A morte da história, a morte da cultura, a morte da arte, são axiomas de achatamento em nome de um suposto caráter homogênio da civilização ocidental e seu desejo tentacular de amarrar o mundo. Esqueceram que os bárbaros que produziram o espetáculo mórbido que conferiu poder hegemônico e muito dinheiro `a CNN, são egressos dos mesmos povos que inventaram a escrita, a matemática, dominaram os metais, inventaram a biga, as mil e uma noites.
A imagem postada acima, é uma escultura de minha lavra, entitulada Twins. Pretende aludir iconográficamente a Venus de Millus reconhecida por sua ausência de braços perdida na história. É imagem que pretende aludir o 11 de setembro, que busca reinscrever a história, reintroduzindo o pedestal, o tempo e o simbólico da perda, assinalar que a cultura ainda é agenciada por pensadores reativos, sublinhar que a presença quase insuportável de conceitos como Diferença, Outro, Multicuturalismo e de gênero, etc., é um sintoma que se dramatiza em presença massiva há exatos dez anos para cá. Outra apropriação de tonus mais forte que preferi não postar por estar incluido na minha próxima mostra em 2012, se trata da imagem do Duplo Elvis, apropriada por Andy Warhol de um still de um filme que Elvis Presley protagoniza como ator: um cowboy que aponta sei colt 45 para o expectador. Aqui entro suprimindo seus braços e inclinando seu tronco `a maneira da Venus aqui aludida. Um cowboy sem braços, de coldre vazio, impotente e exposto em pedestais clássicos, ironia sobre a arrogância, e solidariedade sobre a perda de um povo que pode estar aprendendo que a força pode ser revertida contra si mesmo, um princípio do karatê japonês, que já acenou a este mesmo povo que a potência do progresso pode ser uma arma letal contra si mesmo, e a atual situação economica deste povo significa um tiro no próprio pé que pisou tantos, omitiu-se a outros, como os africanos e sua fome, suas guerras, que por nada possuírem nenhum interesse resvala.
Winston Churchill defendeu sua crença nos americanos por ocasião do Crack dos anos trinta. Dissera, que os americanos sempre encontram a solução para os problemas, mas antes, esgotam todas as possibilidades de erros.
O 11 de setembro é ferida aberta pelos erros americanos. Saddam Hussein foi enforcado, e o povo iraquiano se dizima aos poucos. Os americanos estão ainda esgotando os erros. Ansiamos que se encontrem logo com o acerto, porque o que sofrem hoje são leis de causa e efeito.
Hoje, dia 11 de setembro, dez anos do atentado contra as torres gêmeas, o Word Trade Center em Nova Yorque,
Este foi um fato estarrecedor para todos, especialmente para mim como artista visual, que naquele
dia fui acordado `as 10 horas da manhã pela minha amiga e psicanalista Jacinta Ferraz, me
sugerindo dramaticamente que ligasse a tv. O fiz ali mesmo na cama sob os efeitos de algumas
garrafas de vinho consumidas na madrugada do dia. Me defrontei com as imagens num misto de
incerteza pelo torpor do sono e os efeitos de Baco. Pensei tratar-se de de imagens ficcionais que
lhe interessava (Jacinta) falar - como fazemos sempre - e muito das nossas conversas sobre cultura
ou psicanalise de extensão a qual ela me subsidia de importantes conceitos sobre o estruturalismo
de Jacques Lacan.
Quando percebi o significado grave do que assistia, rumei `as pressas para casa de Jacinta que
demandava apenas atravessar a avenida Centenário, e lá continuei a assistir as intermitentes imagens
transmitidas pela CNN via Globo, tomando café e pão de queijo quando presenciamos em tempo real, o alboroamento do segundo avião.
Aquelas imagens eram estarrecedoras, ao mesmo tempo possuíam algo de sublime, como a erupção de um vulcão - como o Vesuvio que destruiu Pompeia, ou as reações em cadeia das seis torres de usinas nucleares recentemente ocorridas no Japão.
O que nos atrai para as assombrosas produções hollywoodianas sobre gigantescos maremotos provocados por gigantes asteroides que se abatem sobre nosso planeta, ou o repentino desaparecimento dos dinossauros? Porque as grandes tragédias possuem este atrativo, o que nos faz ter essa relação pelo horror, esse pendor para um certo prazer oculto, misturado ao espanto, ao medo, a uma espécie de flerte com a morte como expectador de tragédias reais e virtuais? E, nestes tempos em que as distancias são diluídas e as imagens reproduzidas incansavelmente no instante presente - o que nos torna assíduos aficionados de um teatro de horrores montado a altos custos ao tempo que geram muito mais altos lucros? Estas respostas no plano simbolico estão entrelaçadas de algum modo `a fuga de nossa finitude, `a condição humana em sua relação com a morte toscamente elaborada. Espetacularizar uma guerra, como a do Golfo, associando-a `as virtualizações de um viedeo-game é no mínimo sublimar os horrores de ocorrências in loco encarando uma tragédia como um espetáculo vislumbrado pela morbidez já anunciada pelo gosto romano no circo das arenas e seus gladiadores.
Desde As Cruzadas e Saladino, a contenda cristã-mulçumana tem produzido terríveis efeitos no currículo humanitário das civilzações e suas diferenças culturais. Mas a supremacia do progresso ocidental e sua orientação do lucro como pensamento ordenador de uma civilização que tenta pasteurizar o mundo pelo poder do lucro e o cajado da democracia, tem produzido terríveis distorções políticas, culturais e religiosas. Vale ressaltar que esta abordagem sobre tais assuntos não passam de uma simplificação, reducionismo que não quer elucidar as complexidades que o tema demanda. Apenas me posiciono como artista que sofreu os efeitos do 11 de setembro como um fator paradigmático que mudou em muitos sentidos o curso do que produzo.
Como artista, meu pensamento sobre o mundo sofreu um deslocamento importante. Produzo há dez anos ininterruptamente imagens, esculturas, textos, e toda espécie de mídia que me permita reflexões sobre este estado de intolerância que se abate sobre o mundo em nome das diferenças religiosas, territorialidade, politica e economia.
Com o fim das polaridades ideológicas Russia/EUA, nasceu o que chamo ironicamente de Concílio de Washington onde surge as orientações da cartilha da globalização, uma potente camisa de força embutida na idéia de progresso disseminado ao planeta como uma promessa remissiva dos problemas sócio - economicos do mundo. Assistimos a radicalização da idéia de progresso que em realidade sancionou a lucratividade especulativa de poucos. Ao resto do mundo sobrou as repressões crescentes dos ideários do politicamente correto cobrando um alinhamento ecológico e comportamental cujas orientações nenhum país rico sanciona sua inclusão nas próprias recomendações.
Do ponto de vista da cultura, a máxima de Fukuyama traduz de certa maneira a arrogância inscrita na idéia da globalização. A morte da história, a morte da cultura, a morte da arte, são axiomas de achatamento em nome de um suposto caráter homogênio da civilização ocidental e seu desejo tentacular de amarrar o mundo. Esqueceram que os bárbaros que produziram o espetáculo mórbido que conferiu poder hegemônico e muito dinheiro `a CNN, são egressos dos mesmos povos que inventaram a escrita, a matemática, dominaram os metais, inventaram a biga, as mil e uma noites.
A imagem postada acima, é uma escultura de minha lavra, entitulada Twins. Pretende aludir iconográficamente a Venus de Millus reconhecida por sua ausência de braços perdida na história. É imagem que pretende aludir o 11 de setembro, que busca reinscrever a história, reintroduzindo o pedestal, o tempo e o simbólico da perda, assinalar que a cultura ainda é agenciada por pensadores reativos, sublinhar que a presença quase insuportável de conceitos como Diferença, Outro, Multicuturalismo e de gênero, etc., é um sintoma que se dramatiza em presença massiva há exatos dez anos para cá. Outra apropriação de tonus mais forte que preferi não postar por estar incluido na minha próxima mostra em 2012, se trata da imagem do Duplo Elvis, apropriada por Andy Warhol de um still de um filme que Elvis Presley protagoniza como ator: um cowboy que aponta sei colt 45 para o expectador. Aqui entro suprimindo seus braços e inclinando seu tronco `a maneira da Venus aqui aludida. Um cowboy sem braços, de coldre vazio, impotente e exposto em pedestais clássicos, ironia sobre a arrogância, e solidariedade sobre a perda de um povo que pode estar aprendendo que a força pode ser revertida contra si mesmo, um princípio do karatê japonês, que já acenou a este mesmo povo que a potência do progresso pode ser uma arma letal contra si mesmo, e a atual situação economica deste povo significa um tiro no próprio pé que pisou tantos, omitiu-se a outros, como os africanos e sua fome, suas guerras, que por nada possuírem nenhum interesse resvala.
Winston Churchill defendeu sua crença nos americanos por ocasião do Crack dos anos trinta. Dissera, que os americanos sempre encontram a solução para os problemas, mas antes, esgotam todas as possibilidades de erros.
O 11 de setembro é ferida aberta pelos erros americanos. Saddam Hussein foi enforcado, e o povo iraquiano se dizima aos poucos. Os americanos estão ainda esgotando os erros. Ansiamos que se encontrem logo com o acerto, porque o que sofrem hoje são leis de causa e efeito.
21 março, 2011
22 fevereiro, 2011
ARTISTAS CRIAM ARTE, E MORREM EM GESTÕES CULTURAIS.
Vauluizo Bezerra
Eu entro nessa discussão para acabar com os equívocos movidos por ingenuidades e mistificações. É preciso lembrar que a condição de ser artistas envolve um PATHOS, uma morfologia psicológica que compõe a grande maioria dos artistas, não que sejamos loucos ou potenciais PSICOS, (ou sim, ou sim, parafraseando Caetano Veloso em negativo). Nossa função no mundo é operar com códigos que nos permitem às pessoas que trabalham noutra ordem cotidiana, abrimos sensos para elas e para nós, estendemos a compreensão sensível do mundo, pelas subjetividades e pela articulação intelectual que cada um possui em níveis diferentes. O sol está para todos, mas o conforto das sombras depende dos modos como operam um conjunto de fatores, seja pela fatoração interna na gestão de sua obra, seja pelo bom senso, seja pelas diferentes acepções éticas que cada um saca de seu bornal de surpresas. Essa novidade de indicar Leonel Mattos como diretor de instituição é primeiro, uma tremenda sacanagem com um homem que é meu amigo, conheço-o muito bem, seria trágico para a vida dele como artista ter que passar quatro anos lidando com processos, administrando coisas que ele não tem particularidades que é gestão, uma coisa é organizar uma série de exposições criticáveis em suas modelações conceituais, outra é pensar e gerir num nível macro. Leonel é um fazedor intuitivo, o que não é um defeito, é uma qualidade enquanto artista, mas se o enviamos ao cadafalso das gestões culturais será um completo desastre. Impossível ver Leonel lidando com linguagens que nada significarão para ele, porque ele reconhece o que se processa na Bahia, e um Museu ou qualquer instituição que venha a ser, exige pelas suas condições de aberturas para a exterioridade que necessita de um jogo de conhecimento que ele não dispõe, exigi-se de um crítico, um curador tal conhecimento que primeiro passa pela consciência do que ocorre no mundo com um aparato de conhecimento “científico”, para isso alguém que deve gerenciar o MAM por exemplo, tem que ser municiado por uma noção teórica da arte, por um saber modelador de fatores que elucidam as conjunções contemporâneas, é algo complexo que nem todo artista dispõe, e os que dispõem sabem dos sacrifícios que sua condição de artista sofrerá. Cito o caso de Zivé Giudice, que dirigiu o MAM por quatro anos e levou vinte anos para recuperar seu status qualitativo, que ocorre agora, somente agora decorrido quase trinta anos. Cito também o caso emblemático de Emanuel Araújo, que se tornou um dos mais eficientes e festejados curadores brasileiros. Pergunto: o que aconteceu com sua obra? Ficou refém de adornos enganosos, uma obra de anos sacrificada pela desarticulação de pensamento à própria obra por conta de seu distanciamento em relação à mesma. Um artista caracterizado pelo que um crítico americano chamou de Geometria Afetiva, eivada de proposições identitária em sua estrutura, visível como obra planejada sob o viço da africanidade pelos auspícios de suas disposições geométricas evocativas do cubismo e das recentes conquistas históricas do concretismo/neo-concretismo, uma fala afro-baiana sofisticada e bem sucedida, se vê hoje pateticamente enfeitadas de conchas em paráfrases estranhíssimas do religioso-artista Mestre Didi, que perdoem os seus construtores, o considero uma tremenda mistificação que serve à nossa ignorância pela arte e o olhar desavisado de estrangeiros duvidosos. Porque não se discute na Bahia a obra de outro sacerdote que articulou soberbamente a arte ocidental e a iconografia afro-baiana como Rubem Valentim? A Bahia deve a Rubem Valentim no mínimo uma festa de largo pelo que soube processar arrematando o saber estruturalista e seu envolvimento de corpo e alma com os símbolos e a religião afro-baiana. Falar ainda de Gestores Artistas é obrigado a citar outras pessoas que me são caro como amigos, e também de formas diferentes sacrificados pelos seus envolvimentos com a política cultural. Juarez Paraíso teve seu gênio potencial tolhido pela política. É certo que ajudou a construir uma mentalidade baiana pelos idos dos 60, 70, mas uma mentalidade que por muitos motivos, inclusive a regência militar, nos jogou numa condição suburbana, sua inclinação xenófoba a teóricos cariocas como Paulo Sergio Duarte e Ronaldo Brito, foi um desserviço para nossa amplitude. Porque ele disse certa vez, "Deixem os sábios cariocas no lugar que lhes pertencem". Chico Liberato em duas ou três gestões foi mais aberto, nos trouxe Frederico de Moraes, o próprio Paulo Sergio Duarte, tentou trazer a rica experiência do Núcleo de Arte Contemporânea da Paraíba fundada por P. Sergio Duarte, Raul Córdula e Antônio Dias, nos trouxe de Brasília
Rubem Valentim para falar de sua obra em produtivas conferencias no MAM. Produziu a Exposição Cadastro, e algumas mostras que setorizavam conceitos da produção baiana na que considero a mais rica e ilustrativa gestão de um artista que era subsidiado pela inteligência do arquiteto Pasqualino Magnavita, ainda hoje com uma admirável lucidez com seus mais de 80 anos. Mas pergunto, onde foi parar o artista Chico Liberato, fora suas esporádicas animações? Sacrificado em produções cuja potencia pálida pelo distanciamento que produzir arte requer. Gestor de Museu jamais deve cair em mãos de artistas tão pouco Museólogos que são destituídos das noções específicas que lidar com o meio de arte em sua completude requer. A direção de um Museu deve ser exercida por um profissional que tenha em seu currículo experiência acadêmica e vivencial com os problemas da arte, conhecimento de gestão na especificidade que os problemas da arte e produção, fruição, expositividade, interatividade com outros meios, etc. Por isso sou a favor de Comissões Curatoriais como forma de descentralizar decisões nas mãos de um único gestor. Um Museu passa pela idéia de se criar discursos efetivos e articulados em espraiamentos de interlocuções com o resto do Brasil e do mundo. Pensar as especificidades da cidade e agir com pertinência às necessidades comunitárias, abrindo-as para a educação, desenvolvendo novas gerações abertas às complexidades do mundo. Ainda ontem à noite, conversava com Almandrade, pessoa que tem uma produção reflexiva sobre tais questões ao menos do ponto de vista teórico, pensa bem, e é um portador de idéias que devem ser aproveitadas no mínimo como integrante das Comissões Curatoriais que ele também é defensor. Admito um artista na gestão de políticas culturais como um ser complementar a criar e defender idéias que qualifiquem melhor nosso meio de arte, mas nunca delegar a um artista sem o devido aparelhamento as responsabilidades complexas que a gerencia cultural requer.
Vauluizo Bezerra
Eu entro nessa discussão para acabar com os equívocos movidos por ingenuidades e mistificações. É preciso lembrar que a condição de ser artistas envolve um PATHOS, uma morfologia psicológica que compõe a grande maioria dos artistas, não que sejamos loucos ou potenciais PSICOS, (ou sim, ou sim, parafraseando Caetano Veloso em negativo). Nossa função no mundo é operar com códigos que nos permitem às pessoas que trabalham noutra ordem cotidiana, abrimos sensos para elas e para nós, estendemos a compreensão sensível do mundo, pelas subjetividades e pela articulação intelectual que cada um possui em níveis diferentes. O sol está para todos, mas o conforto das sombras depende dos modos como operam um conjunto de fatores, seja pela fatoração interna na gestão de sua obra, seja pelo bom senso, seja pelas diferentes acepções éticas que cada um saca de seu bornal de surpresas. Essa novidade de indicar Leonel Mattos como diretor de instituição é primeiro, uma tremenda sacanagem com um homem que é meu amigo, conheço-o muito bem, seria trágico para a vida dele como artista ter que passar quatro anos lidando com processos, administrando coisas que ele não tem particularidades que é gestão, uma coisa é organizar uma série de exposições criticáveis em suas modelações conceituais, outra é pensar e gerir num nível macro. Leonel é um fazedor intuitivo, o que não é um defeito, é uma qualidade enquanto artista, mas se o enviamos ao cadafalso das gestões culturais será um completo desastre. Impossível ver Leonel lidando com linguagens que nada significarão para ele, porque ele reconhece o que se processa na Bahia, e um Museu ou qualquer instituição que venha a ser, exige pelas suas condições de aberturas para a exterioridade que necessita de um jogo de conhecimento que ele não dispõe, exigi-se de um crítico, um curador tal conhecimento que primeiro passa pela consciência do que ocorre no mundo com um aparato de conhecimento “científico”, para isso alguém que deve gerenciar o MAM por exemplo, tem que ser municiado por uma noção teórica da arte, por um saber modelador de fatores que elucidam as conjunções contemporâneas, é algo complexo que nem todo artista dispõe, e os que dispõem sabem dos sacrifícios que sua condição de artista sofrerá. Cito o caso de Zivé Giudice, que dirigiu o MAM por quatro anos e levou vinte anos para recuperar seu status qualitativo, que ocorre agora, somente agora decorrido quase trinta anos. Cito também o caso emblemático de Emanuel Araújo, que se tornou um dos mais eficientes e festejados curadores brasileiros. Pergunto: o que aconteceu com sua obra? Ficou refém de adornos enganosos, uma obra de anos sacrificada pela desarticulação de pensamento à própria obra por conta de seu distanciamento em relação à mesma. Um artista caracterizado pelo que um crítico americano chamou de Geometria Afetiva, eivada de proposições identitária em sua estrutura, visível como obra planejada sob o viço da africanidade pelos auspícios de suas disposições geométricas evocativas do cubismo e das recentes conquistas históricas do concretismo/neo-concretismo, uma fala afro-baiana sofisticada e bem sucedida, se vê hoje pateticamente enfeitadas de conchas em paráfrases estranhíssimas do religioso-artista Mestre Didi, que perdoem os seus construtores, o considero uma tremenda mistificação que serve à nossa ignorância pela arte e o olhar desavisado de estrangeiros duvidosos. Porque não se discute na Bahia a obra de outro sacerdote que articulou soberbamente a arte ocidental e a iconografia afro-baiana como Rubem Valentim? A Bahia deve a Rubem Valentim no mínimo uma festa de largo pelo que soube processar arrematando o saber estruturalista e seu envolvimento de corpo e alma com os símbolos e a religião afro-baiana. Falar ainda de Gestores Artistas é obrigado a citar outras pessoas que me são caro como amigos, e também de formas diferentes sacrificados pelos seus envolvimentos com a política cultural. Juarez Paraíso teve seu gênio potencial tolhido pela política. É certo que ajudou a construir uma mentalidade baiana pelos idos dos 60, 70, mas uma mentalidade que por muitos motivos, inclusive a regência militar, nos jogou numa condição suburbana, sua inclinação xenófoba a teóricos cariocas como Paulo Sergio Duarte e Ronaldo Brito, foi um desserviço para nossa amplitude. Porque ele disse certa vez, "Deixem os sábios cariocas no lugar que lhes pertencem". Chico Liberato em duas ou três gestões foi mais aberto, nos trouxe Frederico de Moraes, o próprio Paulo Sergio Duarte, tentou trazer a rica experiência do Núcleo de Arte Contemporânea da Paraíba fundada por P. Sergio Duarte, Raul Córdula e Antônio Dias, nos trouxe de Brasília
Rubem Valentim para falar de sua obra em produtivas conferencias no MAM. Produziu a Exposição Cadastro, e algumas mostras que setorizavam conceitos da produção baiana na que considero a mais rica e ilustrativa gestão de um artista que era subsidiado pela inteligência do arquiteto Pasqualino Magnavita, ainda hoje com uma admirável lucidez com seus mais de 80 anos. Mas pergunto, onde foi parar o artista Chico Liberato, fora suas esporádicas animações? Sacrificado em produções cuja potencia pálida pelo distanciamento que produzir arte requer. Gestor de Museu jamais deve cair em mãos de artistas tão pouco Museólogos que são destituídos das noções específicas que lidar com o meio de arte em sua completude requer. A direção de um Museu deve ser exercida por um profissional que tenha em seu currículo experiência acadêmica e vivencial com os problemas da arte, conhecimento de gestão na especificidade que os problemas da arte e produção, fruição, expositividade, interatividade com outros meios, etc. Por isso sou a favor de Comissões Curatoriais como forma de descentralizar decisões nas mãos de um único gestor. Um Museu passa pela idéia de se criar discursos efetivos e articulados em espraiamentos de interlocuções com o resto do Brasil e do mundo. Pensar as especificidades da cidade e agir com pertinência às necessidades comunitárias, abrindo-as para a educação, desenvolvendo novas gerações abertas às complexidades do mundo. Ainda ontem à noite, conversava com Almandrade, pessoa que tem uma produção reflexiva sobre tais questões ao menos do ponto de vista teórico, pensa bem, e é um portador de idéias que devem ser aproveitadas no mínimo como integrante das Comissões Curatoriais que ele também é defensor. Admito um artista na gestão de políticas culturais como um ser complementar a criar e defender idéias que qualifiquem melhor nosso meio de arte, mas nunca delegar a um artista sem o devido aparelhamento as responsabilidades complexas que a gerencia cultural requer.
Vauluizo Bezerra
13 fevereiro, 2011
09 fevereiro, 2011
A Escultura de Antônio Carlos Magalhães por Vauluizo Bezerra
O blog Pura Política cujo link de acesso http://purapolitica.com.br/noticias_view.php?id=1741 veicula notícia sobre algumas observações que fiz no Facebook sobre ter sido contratado por uma empresa da família do ex-Deputado, Governador e Senador Antônio Carlos Magalhães. O Pura Política cita meu blog e percebi que as pessoas têm vindo observar algum conteúdo sobre o assunto. Aproveito a oportunidade para fazer um breve relato desta experiência que no mínimo reflete um desrespeito contra um artista.
Alguns meses após a morte de ACM fui contatado pela empresa de engenharia Santa Helena, grupo do holding da família para tratar de uma escultura do político baiano a ser assentada em sua lápide. Ficou firmado o acordo regido por um contrato que entre suas cláusulas, a parte que descumprisse qualquer dos itens teria como encargo uma multa estipulada no dobro do valor total da escultura.
Fazer um retrato em escultura de alguém que viveu 70 anos, de forte presença pública, implica em certos cuidados cujas pessoas que trataram comigo não tinham o mínimo de particularidade com o assunto. Foi-me delegada a responsabilidade de escolher a idade que me pareceu mais representativa iconograficamente, isto é, entre 55 e 65 anos, idades cujo viço físico caracterizasse o vigor pelo qual ACM sempre foi caracterizado.
A escultura foi feita e, de acordo com uma das clausulas do contrato eu deveria entregar uma copia em gesso para apreciação da família entre eles o Senador ACM Jr. e ACM Neto, mais diretores da empresa, o que foi cumprido por mim dentro dos prazos fixados. A escultura foi aprovada e fiquei no aguardo da sinalização para tirar a cópia definitiva em bronze como regia o contrato. Depois de algum tempo recebi a ansiosa visita de um dos interlocutores da empresa solicitando a cópia em bronze num espaço de dez dias, pois seria comemorado o primeiro ano de morte de ACM. Avisei-o de que seria impossível: primeiro porque na Bahia não há fundição de bronze, segundo porque a natureza processual da técnica exigiria no mínimo um mês. Diante da aflição do emissário sugeri que a única solução seria fazer uma cópia em resina e fibra de vidro com uma pintura que desse a impressão de bronze para efeito da inauguração e, que tal solução deveria ser transitória, pois a tinta não suportaria a ação do tempo, além de frisar que tal cópia era extra contrato cuja produção teria que ter um valor adicional, para depois confeccionarmos a cópia em bronze e eu receber a terceira parte do meu pró-labore, ou seja, meu pagamento considerando que as duas primeiras parcelas viabilizaram apenas a produção física da peça ficando de fora meu trabalho como artista.
Passaram-se alguns meses e cobrei o término do trabalho. Responderam-me da forma mais patética e insensível que se pode tratar um profissional: “Vauluizo, todos gostaram da peça, menos a viúva. Ademais, mudaram-se os planos, resolveram fazer um mausoléu e sua escultura não terá função no novo projeto”. Eu argumentei que existia um contrato que estava sendo lesado, que gostaria de resolver o problema sem uso jurídico, que gostar ou não gostar era uma prerrogativa da viúva e, que não me interessavam seus motivos subjetivos afetivos. Fui repreendido brandamente pela ironia.
Para finalizar, digo que fui contratado para fazer uma escultura em bronze, e que cada peça que um escultor faz, sobretudo um retrato de gestões acadêmicas como é o caso aqui, tem uma implicação que recai na própria natureza dos materiais. Modelei um retrato de ACM para bronze polido, pelas emergências alheias a mim entreguei uma cópia em resina mascarada de bronze que nunca terá a nobreza pela técnica que fui contratado e não pago. A isso chamo de calote, coisa que Antônio Carlos Magalhães jamais teria desferido contra um artista pois sempre foi sensível a estes e, inteligentemente sempre capitalizou no universo da arte e da cultura, muitas das qualidades do político que foi.
Vauluizo Bezerra
Alguns meses após a morte de ACM fui contatado pela empresa de engenharia Santa Helena, grupo do holding da família para tratar de uma escultura do político baiano a ser assentada em sua lápide. Ficou firmado o acordo regido por um contrato que entre suas cláusulas, a parte que descumprisse qualquer dos itens teria como encargo uma multa estipulada no dobro do valor total da escultura.
Fazer um retrato em escultura de alguém que viveu 70 anos, de forte presença pública, implica em certos cuidados cujas pessoas que trataram comigo não tinham o mínimo de particularidade com o assunto. Foi-me delegada a responsabilidade de escolher a idade que me pareceu mais representativa iconograficamente, isto é, entre 55 e 65 anos, idades cujo viço físico caracterizasse o vigor pelo qual ACM sempre foi caracterizado.
A escultura foi feita e, de acordo com uma das clausulas do contrato eu deveria entregar uma copia em gesso para apreciação da família entre eles o Senador ACM Jr. e ACM Neto, mais diretores da empresa, o que foi cumprido por mim dentro dos prazos fixados. A escultura foi aprovada e fiquei no aguardo da sinalização para tirar a cópia definitiva em bronze como regia o contrato. Depois de algum tempo recebi a ansiosa visita de um dos interlocutores da empresa solicitando a cópia em bronze num espaço de dez dias, pois seria comemorado o primeiro ano de morte de ACM. Avisei-o de que seria impossível: primeiro porque na Bahia não há fundição de bronze, segundo porque a natureza processual da técnica exigiria no mínimo um mês. Diante da aflição do emissário sugeri que a única solução seria fazer uma cópia em resina e fibra de vidro com uma pintura que desse a impressão de bronze para efeito da inauguração e, que tal solução deveria ser transitória, pois a tinta não suportaria a ação do tempo, além de frisar que tal cópia era extra contrato cuja produção teria que ter um valor adicional, para depois confeccionarmos a cópia em bronze e eu receber a terceira parte do meu pró-labore, ou seja, meu pagamento considerando que as duas primeiras parcelas viabilizaram apenas a produção física da peça ficando de fora meu trabalho como artista.
Passaram-se alguns meses e cobrei o término do trabalho. Responderam-me da forma mais patética e insensível que se pode tratar um profissional: “Vauluizo, todos gostaram da peça, menos a viúva. Ademais, mudaram-se os planos, resolveram fazer um mausoléu e sua escultura não terá função no novo projeto”. Eu argumentei que existia um contrato que estava sendo lesado, que gostaria de resolver o problema sem uso jurídico, que gostar ou não gostar era uma prerrogativa da viúva e, que não me interessavam seus motivos subjetivos afetivos. Fui repreendido brandamente pela ironia.
Para finalizar, digo que fui contratado para fazer uma escultura em bronze, e que cada peça que um escultor faz, sobretudo um retrato de gestões acadêmicas como é o caso aqui, tem uma implicação que recai na própria natureza dos materiais. Modelei um retrato de ACM para bronze polido, pelas emergências alheias a mim entreguei uma cópia em resina mascarada de bronze que nunca terá a nobreza pela técnica que fui contratado e não pago. A isso chamo de calote, coisa que Antônio Carlos Magalhães jamais teria desferido contra um artista pois sempre foi sensível a estes e, inteligentemente sempre capitalizou no universo da arte e da cultura, muitas das qualidades do político que foi.
Vauluizo Bezerra
16 janeiro, 2011
ALBINO RUBIM NOVO SECRETÁRO DA CULTURA - NÃO VI , NÃO GOSTEI Por Vauluizo Bezerra
Não vi e nem gostei. Vocês ficam na passividade dos votos de boa gestão: “que faça isso, que faça aquilo, faço votos de uma boa gestão, nunca ouvi falar no senhor, mas temos esperança que olhe para nós com atenção ”. Não vai fazer nada. Eminência parda, sem melanina a começar pelo nome. Quando digo que nós artistas plásticos, visuais, "cambiais", midiáticos, ignorantes, não somos articulados, vocês me acusam de apaniguado, e amigo dos "poderosos". Pois bem, defendo os "derrotados". Vocês souberam bater em quem trabalhou muito como Solange Farkas, que nos trouxe coisas que ninguém além dela, no atual panorama, jamais conseguiria trazer à Bahia - aliás, mais um absurdo para a lista de Otávio Mangabeira - vocês praticaram xenofobia com uma baiana de Feira de Santana, mas não tiveram a capacidade de se agrupar em torno de um nome que acreditassem. Vocês lidam com cores, mas são pálidos de idéias, equivocados e passivos politicamente, ficam em silencio diante de quem não conhece, porque não lutam em torno de quem conhecem e acreditam? Porque vocês não entendem nada, e não são mais meninos; aquele discurso de Caetano Veloso no festival da Record que entre tantas coisas diz: "SE VOCES ENTENDEM DE POLÍTICA QUANTO ENTENDEM DE ESTÉTICA, VOCES NÃO ESTÃO COM NADA, NÃO ESTÃO ENTENDENDO NADA"! Isso lhes cabe como um PARANGOLÉ DE OITICICA, que todos vestem como idéia, mas ignoram o que vestem. O Governador não é bobo, engessou a Pasta da Cultura pra não trombar com o lobby pesado dos arcaísmos baiano. Teve muito trabalho com a pasta da Cultura nas tentativas de acertos conceituais, dificultadas na incapacidade administrativa locada na tradição imperial da nossa burocracia. O que foi conquistado nestes quatro anos à custa de muito trabalho e desgaste emocional nos serve de grifo aos esforços vãos, entre erros e acertos empurrados para ralo do lodaçal nebuloso da política. Até um mês atrás, todos tinham “aquilo” roxo, e atiravam pedras indiscriminadamente em Solange Farkas, tudo em nome de um Salão anacrônico e esvaziado. Em realidade vocês defendiam a possibilidade de ganhar 20.000 contos de réis. Muitos dos artistas ficaram insatisfeitos quando Farkas transformou os 20.000 contos de Réis em estadias internacionais mediadas pelo reconhecimento global que ela goza, mas os artistas baianos não querem interlocuções com o mundo, à maneira americana, o Bahian Way Life prima pelo seu Umbigo de Ouro, não está interessado no mundo porque o mundo é aqui, o Axé corrobora, Amy Winehouse sai do Rio/São Paulo, passa por cima da Bahia e mostra os o bicos no Recife, nós ficamos a ver navios, na sede da Cultura baiana, no Porto da Barra, onde de longe avistamos sob o calor dos vapores marinhos a figura desfocada do Sr. Albino Rubim, nada pessoal, tudo cultural.
Vauluizo Bezerra
Vauluizo Bezerra
Alguns pontos sobre Solange Farkas
Leonel Matos argumenta que tem 40 anos de arte, tenho 42, mas isso aqui não é uma competição geriátrica, antes, ao menos penso, é a exposição de visões políticas diferentes sobre as noções de cultura. É preciso deixar claro aos que insistem em não usar óculos mentais que nada aqui tem caráter pessoal. Somos amigos há mais de trinta anos, você sabe como gosto de você e te apoio em suas ações mesmos que inseridas em certa pressa ou metodologias de gambiarra. Isso é uma crítica direta às maneiras de como você faz suas coisas, e você sabe que te digo olho no olho, e que sempre estive junto a você oferecendo minha contribuição para o que você quiser, pois acredito na sua energia de trabalho, no seu poder aglutinador especial e que tem que ser aproveitado. Conheço Solange Farkas há mais tempo que todos os meus amigos, desafetos e colegas de arte. Portanto minha tese aqui postada nada tem a ver com amizade, mas com uma visão de cultura. Solange Farkas cometeu erros sim, mas não os que você aponta. Cometeu erros de cuidados contra os melindres afetivos de artistas ressentidos, e muitas vezes com razão, faltou a ela um cuidado político, coisa que ela confessadamente não faz bem, ao menos na Bahia que possui uma natureza ainda lastreada pelo senso do chamo hoje de “coronelato progressista “. Falar de uma curadora de Feira de Santana que saiu e conquistou o mundo, e, muito antes de tudo isso, de seu envolvimento com o MAM BA, dois anos antes já me confessara ao me mostrar sua casa aqui em Salvador - ”Val, quero dividir o que conquistei, dar meu contributo a meu Estado, ajudar a melhorar no que eu puder aqui...” Mas pelo que vejo, ninguém conhece as conquistas de Solange, sua representatividade, seu trabalho reconhecido mundialmente. Vão ao Google. O que deveria soar como admiração e orgulho de uma conterrânea que fundou o Vídeo Brasil, que produziu uma ópera de Lighetti, que assina curadorias nos mais famosos e exigentes museus do mundo, que edita a VÍDEOBRASIL COLEÇÃO DE AUTORES, trazendo artistas do naipe de William kentridge, Rafael França, Mau Wal, Akram Zaatari; edita os cadernos reflexivos importantíssimos , CADERNOS DO SESC-VÍDEO BRASIL, edita o FESTIVAL DE ARTE ELETRONICA SESC-VÍDEO BRASIl - com inscrições abertas nacionalmente para a sua XVII EDIÇÃO - lembrando que na edição anterior foram premiados pelo menos três artistas baianos que me lembro no momento, a saber, Danilo Barata, Caetano Dias e Ayrson Héraclito, ninguém lembra ou sabe disso, se sabem não citam por omissão maliciosa. É de conhecimento de quem está disposto ao razoável, que vários artistas baianos que empunharam seus projetos sempre foram bem recebidos e agregados a exposições internacionais, algumas delas em exercício no tempo presente, como Gayo Matos, Eneida Assunção etc. Há muito mais que foi feito pelos artistas baianos, estou esperando um dossiê destes beneficiados por qualidade e iniciativa, e não pelo ui,ui, ui como uma canção lamuriante de um reage deslocado. Ninguém lembra, ainda na gestão de Heitor Reis, da maravilhosa MOSTRA PAN AFRICANA DE ARTE CONTEMPORÂNEA sob sua curadoria? E já na sua gestão a francesa ORLAN, presente entre nós, nos fornecendo os subsídios conceituais de sua respeitada obra, a emblemática instalação do nosso saudoso amigo MÁRIO CRAVO NETO, a festejada obra da também francesa SOPHIE CALLE , e sua potencia feminina em CUIDE DE VOCÊ , numa das mais eficientes demonstrações de expositividade museológica por sua montagem e esmero que jamais vimos por aqui? A beleza poética da fotografia de THOMAS FARKAS, a apresentação do cineasta e obra de KENETH ANGER e seu cinema espandido, que sublinhou a ausência de interesse dos artistas locais? O multi-artista PETER GREENWAY, e a imperdível mostra de JOSEPH BEUYS, ora em curso no MAM BAHIA? Estas são atividades que estão na minha memória no momento em que escrevo este texto sem me servir de nenhum auxílio de documentação que perfile tudo que foi feito. Mas podemos ainda acrescentar as mudanças operadas num museu que sofria com um restaurante de gosto duvidoso, com sua caricatura de música afro-baiana para deleite meia dúzia de turistas estrangeiros pouco esclarecidos. O aproveitamento dos espaços deste restaurante na ampliação expositiva do museu, a instalação de uma rede informática, pois o museu foi herdado sem um único computador, ao menos dispunha de um mailing; a aquisição de aparelhos de alta tecnologia, como todo um aparato que nos possibilita ver hoje mostras de teores tecnológicos agregadas a vídeo-arte e instalações que exijam novas mídias, etc.
O remanejamento do acervo histórico para exibição em museus brasileiros e europeus como forma de gerar receita complementar à sua parca programação orçamentária, e os desavisados que ouvem o galo cantar e não sabem onde, ficam alardeando informações tendenciosas, quando não por pura ignorância. A edição do livro do MAM foi conseguida por Solange Farkas através do Banco Safra, mas o museu nem sua diretora pode ou tiveram a mínima intervenção editorial, pois esta era a condição da edição do livro visto que o Banco Safra tem seu próprio desenho editorial, um tanto clássico para o perfil do museu, mas melhor tê-lo com seus erros e deslocado design, que não ter nada. Todo este relato é feito de memória no imediatismo de responder a artistas insatisfeitos com a gestão do museu. São parciais, ignoram quase tudo, além de uma insistente e maliciosa indisposição calcada em interesses políticos e confusão mental.
Fui relacionado por um colega que gosto muito, Leonel matos,afirma ele que defendo Solange Farkas por ser amigo, e pelo oportunismo de fazer uma mostra no museu que ela dirigia. Ora Leonel, isso é de uma descabida idiotia recheada de maledicência, e não quero que isso resvale para nossa amizade tão longa, nada aqui é pessoal. Você argumenta que tem 40 anos de arte, eu tenho 42, e repito, isso aqui não é uma competição geriátrica, ao menos para mim, exponho no MAM meritoriamente desde a gestão de Chico Liberato, expus na gestão de Heitor que fez um excelente trabalho de resgate do Museu de Arte Moderna da Bahia mas que a certa altura perdeu sua capacidade de manutenção por culpa dos humores de Antonio Carlos Magalhães que sabe-se lá por quais motivos drenou o orçamento do MAM. Assistimos Heitor sair melancolicamente depois de uma gestão que tornou o museu mapeado no cenário brasileiro, mas passou, como passou Silvio Robato, Chico Liberato e agora Solange Farkas. Fica o museu, e nós artistas baianos que precisamos de novas maneiras de olhar para nossa terra e para o mundo em sua febril transformação. Amigo Leonel, seu modo intuitivo não alcança a dinâmica que o mundo exige, una-se aos amigos que podem te disponibilizar o que te falta, trabalhemos juntos, mas se livre de afirmações injustas que você nunca foi dado a tais comportamentos, minha recente mostra no MAM foi realizada sob enormes dificuldades, você sabe disso, apresentei um projeto para dois editais, venci um, perdi outro, fiquei na primeira suplência, e para minha sorte, houve uma desistência que me possibilitou realizar meu trabalho. Não precisei de minha amiga Solange para fazer o que tenho feito e reconhecido por muita gente, inclusive você. Tenho uma trajetória, sou independente, não pertenço ao PT ou a nenhuma outra sigla partidária.Sou um artista reconhecido como você, com uma história de trabalho árduo e obsessivo. Você que se queixa tanto, apresentou algum projeto? Foi ver alguma mostra que citei aqui? Viu Tunga, foi ver José Resende no Palacete das Artes? Carlito Carvalhosa, estas são iniciativas curatoriais de Daniel Rangel, competente, baiano como Solange Farkas que o introduziu no circuito e nos deixa como uma benfazeja herança. Quem não gostar vá chorar ao pé do CABÔCO, fica lá no Campo Grande. Asé
Vauluizo Bezerra
O remanejamento do acervo histórico para exibição em museus brasileiros e europeus como forma de gerar receita complementar à sua parca programação orçamentária, e os desavisados que ouvem o galo cantar e não sabem onde, ficam alardeando informações tendenciosas, quando não por pura ignorância. A edição do livro do MAM foi conseguida por Solange Farkas através do Banco Safra, mas o museu nem sua diretora pode ou tiveram a mínima intervenção editorial, pois esta era a condição da edição do livro visto que o Banco Safra tem seu próprio desenho editorial, um tanto clássico para o perfil do museu, mas melhor tê-lo com seus erros e deslocado design, que não ter nada. Todo este relato é feito de memória no imediatismo de responder a artistas insatisfeitos com a gestão do museu. São parciais, ignoram quase tudo, além de uma insistente e maliciosa indisposição calcada em interesses políticos e confusão mental.
Fui relacionado por um colega que gosto muito, Leonel matos,afirma ele que defendo Solange Farkas por ser amigo, e pelo oportunismo de fazer uma mostra no museu que ela dirigia. Ora Leonel, isso é de uma descabida idiotia recheada de maledicência, e não quero que isso resvale para nossa amizade tão longa, nada aqui é pessoal. Você argumenta que tem 40 anos de arte, eu tenho 42, e repito, isso aqui não é uma competição geriátrica, ao menos para mim, exponho no MAM meritoriamente desde a gestão de Chico Liberato, expus na gestão de Heitor que fez um excelente trabalho de resgate do Museu de Arte Moderna da Bahia mas que a certa altura perdeu sua capacidade de manutenção por culpa dos humores de Antonio Carlos Magalhães que sabe-se lá por quais motivos drenou o orçamento do MAM. Assistimos Heitor sair melancolicamente depois de uma gestão que tornou o museu mapeado no cenário brasileiro, mas passou, como passou Silvio Robato, Chico Liberato e agora Solange Farkas. Fica o museu, e nós artistas baianos que precisamos de novas maneiras de olhar para nossa terra e para o mundo em sua febril transformação. Amigo Leonel, seu modo intuitivo não alcança a dinâmica que o mundo exige, una-se aos amigos que podem te disponibilizar o que te falta, trabalhemos juntos, mas se livre de afirmações injustas que você nunca foi dado a tais comportamentos, minha recente mostra no MAM foi realizada sob enormes dificuldades, você sabe disso, apresentei um projeto para dois editais, venci um, perdi outro, fiquei na primeira suplência, e para minha sorte, houve uma desistência que me possibilitou realizar meu trabalho. Não precisei de minha amiga Solange para fazer o que tenho feito e reconhecido por muita gente, inclusive você. Tenho uma trajetória, sou independente, não pertenço ao PT ou a nenhuma outra sigla partidária.Sou um artista reconhecido como você, com uma história de trabalho árduo e obsessivo. Você que se queixa tanto, apresentou algum projeto? Foi ver alguma mostra que citei aqui? Viu Tunga, foi ver José Resende no Palacete das Artes? Carlito Carvalhosa, estas são iniciativas curatoriais de Daniel Rangel, competente, baiano como Solange Farkas que o introduziu no circuito e nos deixa como uma benfazeja herança. Quem não gostar vá chorar ao pé do CABÔCO, fica lá no Campo Grande. Asé
Vauluizo Bezerra
15 janeiro, 2011
12 janeiro, 2011
Correspondência em Resposta a Rener Rama Sôbre o Horizonte Perdido da Arte Contemporânea.
Amigo Rener, O mundo que aí está é o mundo possível, não temos outro, é esse e pronto!! Horizonte sempre haverá, o problema é sob que leis de observação podemos distinguí-lo, eis a tarefa. Estamos distantes da física Newtoniana, banhados ainda pelos relativismos einsteinianos, a física de hoje se emblematiza numa cadeira de rodas agindo com um cérebro e um dedo: Stephen Hawking. Penso a arte de hoje dentro destas analogias com a ciência, tomo aqui o conceito ou existência dos Black Holes, não sabemos de suas leis a partir do que os físicos chamam de Horizonte de Evento. Na arte o horizonte de evento se dá na particularidade de cada artista, são corpos autônomos que necessitam de decifrações especificas em cada olhar que lançamos sobre qualquer artista. É na conjunção destes muitos corpos - daí a necessidade curatorial - que nos fornece o espetáculo de belas constelações e rudimentos que esclarecem a superfície de suas escolhas neste recorte estelar, mas não distinguem o que regem suas fisicalidades, apenas a mecânica de suas escolhas, seus recortes. Baudrillard fala de tal pulverização, da metástase na cultura, na arte, mas a arte continua existir sob a égide do espetáculo, de suas meras aparências, porque é isso o que somos hoje, unidades anônimas reconhecíveis pelo conjunto, daí uma ou outra estrela ganha nome, e passa ao reconhecimento mapeado, eis o mundo que tantos estrilam e que me causa estranhamento, mas me diverte, mesmo não sendo classificado num mapa não deixo de me sentir artista, e como pertenço a uma geração dinossáurica que não possui a chamada "inteligência emocional", ainda assim prevalece o logos: penso, pinto, desenho, fotografo, filmo, logo existo. Eu adoro esta época, celebro-a como você sugere! Num texto recente eu disse a propósito da reação de Arnaldo Jabor sobre a Bienal de São Paulo - veja integral no meu blog, http://vauluizobezerra.blogspot.com/ , mais ou menos isso:" minha vocação dinossáurica num tempo em que realmente o artista se tornou a obra, isso não é pra gente velha como Jabor, nem eu que sou mais novo mas entalado entre duas noções, por isso digo, not so wrong, not so right, me resta o alento de saber que em tempos escuros se formou gente como Caravaggio que não gosto, mas também Rembrandt, eu quero ser Rembrandt quando crescer, há uma luz naquelas sombras, mas há também em Olafur Eliasson, not so wrong, not so right. On the Wall. "
É isso, nosso mundo é babélico, mas adoro essa confusão, tanta coisa a fazer, decifrar, brincar, brincar. Abração VB.2011
É isso, nosso mundo é babélico, mas adoro essa confusão, tanta coisa a fazer, decifrar, brincar, brincar. Abração VB.2011
07 janeiro, 2011
06 janeiro, 2011
A crítica é um conjunto de parâmetros interdisciplinares que busca noções para um sentido e uma razão de lugar definidor das ações produtivas. Ela tem uma função reflexiva que passa por muitos eixos variáveis que norteiam suas dinâmicas diretivas.
A crítica por origem e definição é uma ramificação do pensamento filosófico. Seus modos de operar atendem à dinâmica de um humanismo centrado no século dezenove. No modernismo ela atende sob uma crise anunciada, ainda assim se faz pertinente por se tratar de uma época que celebrava a liberdade produtiva da arte circunscrita a sensos ideológicos. Os ismos de toda a modernidade são geografias reconhecíveis a preceitos de ideários que em certa medida são imanências subjacentes aos recortes de pensamentos ligados a gestões filosóficas ou ideológicas.
Nestes últimos vinte anos percebemos a pulverização das ideologias. Desde os anos sessenta se decreta a morte do humanismo. As técnicas de reprodução, a democratização das viagens, o dramático fluxo da evolução das comunicações são frutos da ciência e tecnologia. Estes aspectos produziram um ruidoso deslocamento nas funções da arte. Os trânsitos de idéias e modos de operar não obedecem a nenhum centro gravitacional. A falência das ideologias coloca o artista como centro dele próprio o que o torna impermeável às noções de critica a qual estávamos habituados. Neste sentido, a presença do curador responde a uma nova noção administrativa: a espetacularidade é a única forma oferecer um sentido à arte que se expandiu em significados particularizados.
A crítica perdeu seu tradicional corporativismo. O que ela precisa é readquirir seu amor próprio e se adaptar à sua nova condição de coadjuvância. O mundo mudou e não foi a arte nem a critica que promoveu tais mudanças. Há aqui uma inevitabilidade do fluxo contemporâneo. Nas sociedades capitalistas em que os padrões de consumo instam a existência das pessoas, a arte também está subordinada às super- estruturas que movem este mundo em que a espetacularidade é uma condição para alguns indesejável, mas a presença da critica pode dar a distinção de verdades menos enganosas. VB.2010
A crítica por origem e definição é uma ramificação do pensamento filosófico. Seus modos de operar atendem à dinâmica de um humanismo centrado no século dezenove. No modernismo ela atende sob uma crise anunciada, ainda assim se faz pertinente por se tratar de uma época que celebrava a liberdade produtiva da arte circunscrita a sensos ideológicos. Os ismos de toda a modernidade são geografias reconhecíveis a preceitos de ideários que em certa medida são imanências subjacentes aos recortes de pensamentos ligados a gestões filosóficas ou ideológicas.
Nestes últimos vinte anos percebemos a pulverização das ideologias. Desde os anos sessenta se decreta a morte do humanismo. As técnicas de reprodução, a democratização das viagens, o dramático fluxo da evolução das comunicações são frutos da ciência e tecnologia. Estes aspectos produziram um ruidoso deslocamento nas funções da arte. Os trânsitos de idéias e modos de operar não obedecem a nenhum centro gravitacional. A falência das ideologias coloca o artista como centro dele próprio o que o torna impermeável às noções de critica a qual estávamos habituados. Neste sentido, a presença do curador responde a uma nova noção administrativa: a espetacularidade é a única forma oferecer um sentido à arte que se expandiu em significados particularizados.
A crítica perdeu seu tradicional corporativismo. O que ela precisa é readquirir seu amor próprio e se adaptar à sua nova condição de coadjuvância. O mundo mudou e não foi a arte nem a critica que promoveu tais mudanças. Há aqui uma inevitabilidade do fluxo contemporâneo. Nas sociedades capitalistas em que os padrões de consumo instam a existência das pessoas, a arte também está subordinada às super- estruturas que movem este mundo em que a espetacularidade é uma condição para alguns indesejável, mas a presença da critica pode dar a distinção de verdades menos enganosas. VB.2010
23 dezembro, 2010
Arnaldo Jabor Bienal de São Paulo Not so wrong, Not so right vauluizo Bezerra
ARNALDO JABOR - O Estado de S.Paulo- Bienal SP
Ao apagar das luzes, fui ver a Bienal. Quase não escrevo sobre ela, mas não aguentei, apesar de não ser crítico de arte. A sensação dominante que tive foi de ruínas ou de despejos da civilização. Saí triste. Os trabalhos repetem os mesmos códigos e repertórios: terra arrasada, materiais brutos e sujos, desarmonia, assimetria, uma vergonha de ser "arte", vergonha de provocar sentimentos de prazer. A fruição poética é impedida, como se o prazer fosse uma coisa reacionária, "alienada", ignorando o "mal do mundo", que tem de ser esfregado na cara do espectador para que ele não esqueça o horror que nos assola.
Há um propósito de evitar qualquer transcendência artística. Um crítico escreveu: "O paradigma romântico foi desmantelado no século 20, porque apresenta a arte como algo universal, acima da realidade social e política."
Ou seja, a razão maior da arte, que é justamente esse mistério que aponta para "as coisas vagas" (como escreveu Paul Valéry) sem as quais não há reflexão poética ou filosófica, foi jogada fora, em nome de uma racionalização criada para substituir nossa impotência política real.
Fui andando pelo pavilhão maravilhoso do Niemeyer, pensando que o edifício "modernista" era superior a qualquer panfletinho ali exposto.
Pensei que o império da sordidez mercantil, a ignorância no poder, o fanatismo do terror, a boçalidade cultural, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além do alcance crítico de qualquer "denúncia" artística. Não adianta mais "chocar" ou "conscientizar" ninguém. Nada que haja na Bienal nos choca mais que homens-bomba explodindo discotecas ou a fome na África ou a lama das favelas e periferias. Nada. Os gestos enraivecidos da antiarte nem arranham a pele do mundo. Nesta Bienal vi um parque temático de deprimidos, um muro de lamentações inúteis - a melancolia como "denúncia" de uma vida sem solução, quando a grande crítica ao Ocidente é feita pelos terroristas islâmicos. A infeliz sentença de Stockhausen chamando o 11 de Setembro de "obra de arte" tem, sim, um bruto fundo de verdade. Nada pode explicar ou evitar aquele horror. Nunca imaginávamos que o século 21 seria parecido com o século 7.º, quando Maomé se declarou o único profeta.
Intelectuais e artistas vivem em pânico, pois o tempo de sínteses se extinguiu. Os acontecimentos estão incompreensíveis e, no entanto, óbvios demais. Claro que os artistas contemporâneos não podem ignorar o horror do mundo e têm de acusar o golpe. Sim, mas mesmo em tempos terríveis, há que se buscar alguma transcendência, esperança e vitalidade.
Tropeçando em perigosas "instalações", pensei que a morte da "aura" da arte é menos aceita do que pensávamos. Hoje, muitos artistas se veem como ex-profetas abandonados e passaram a usar a luz da "aura" como um halo, como uma coroa de espinhos para sua solidão. O artista quer virar obra de arte. E tudo faz para esquecer seu abandono, mesmo que seja expor seus excrementos numa latinha. E vemos que ele não abriu mão da representação, mas cultiva-a ao avesso da beleza, como uma doença favorita. Ele é a representação, ele é a paisagem.
Acho que nesta desistência da arte transcendental há um complexo de inferioridade diante da tecnociência, que está avassalando nossas vidas. Nietzsche não concordaria: "A arte é mais poderosa que a Ciência, pois ela quer a vida, enquanto o objetivo final do conhecimento é o aniquilamento." Nietzsche escreveu isso no fim do século passado, querendo dizer que, por trás da busca científica e racional da verdade, mora o desejo da morte, de esgotamento da vida, por uma letal explicação de tudo.
Claro que não tenho nível para aprofundar este tema; mas temos hoje esta metástase digital hipertecnológica ao lado de um indigente, tuberculoso, desempenho artístico do mundo. Temos de um lado o mercantilismo escroto de Hollywood, dos teatrões, das galerias chiques ou dos best-sellers. Do outro, a solidão melancólica das Documentas, os bodões negros dos guetos da revolta "oficial".
Sem dúvida, a grandeza da arte contemporânea é de se misturar à vida, sem suporte, mas sem negá-la de fora, atacando-a com rancor por sua falta de sentido claro. Nisso, o WikiLeaks mata a pau.
Movidos pela ideia socrática de que a arte tem de ser subordinada à Razão, os artistas caíram numa denúncia melancólica das impossibilidades. Não há futuro para esta ideia de arte, seja ela digital, mercantil, iluminista ou o cacete a quatro. A celebração dionisíaca do existir não pode ser considerada frescura ou alienação.
Prevaleceu a vertente "triste" do modernismo, a vertente "conceitual" que joga sobre o "mal do mundo" apenas uma ideologia nevoenta de condenações sem nome, apenas uma arte enojada contra o mal-estar da civilização.
Por que a melancolia seria mais profunda que a alegria? Como explicar Fred Astaire, Busby Berkeley, Cantando na Chuva, a arte pop, o jazz? Depois do pop, será que uma "aids conceitual" não atacou tudo, depauperando a luta? Será que não se esgotou a denúncia do feio pelo "mais feio", que odeia a vida real, por adesão a um impossível finalismo? O "novo" não poderia ser um "belo" que denuncia, com sua luz, a injusta vida?
Precisamos de arte, como uvas e frutos e danças e como um coro de Silenos, de Dionísios, pois a ciência e a razão estão querendo chegar até os ossos da "essência". A arte é a ilusão aceita, a clareza feliz de que a aparência é o lugar do humano e que só nos resta essa hipótese de felicidade num planeta gelado. Não a arte-espetáculo, mercadoria de ver, mas a arte como ritual de embelezamento da vida. Nietzsche: "A ilusão é a essência em que o homem se criou."
Lembrei-me então de uma frase de Stravinski: "A obra de arte deve ser exaltante." E uma de Artaud: "A arte não é a imitação da vida; a vida é que é a imitação de "algo" transcendental com que a arte nos põe em contato." Por isso, não gostei da Bienal.
Not so wrong, not so right. Apenas meros espasmos de tecidos mortos? Curioso notar, o autor não cita um único pensador desta época, suas modulações são todas regidas por novecentistas transcendentais que em alguma medida nos levaram a nosso estado presente, de toda sorte sinto um reclame sincero, uma maneira legítima de segurar seu mundo que ele vê desabado. Stockhausen constatou corretamente, nossa espetacularidade é espetacular, diria Millor, é nossa forma de fazer cultura falando do mundo nosso de cada dia, vestidos como chineses de Mao com brin azul, economia socialista e senso mental capitalista, e vice versa, a ocasião faz o ladrão de nós mesmos, daí a melancolia, a febre, a metástase cultural, a biologia uniformiza seus fenômenos reativos, a vida é assim, duas cabeças tendem a um cérebro, eu disse isso num trabalho anônimo que jazz em alguma coleção periférica, minha vocação dinossáurica num tempo em que realmente o artista se tornou a obra, isso não é pra gente velha como Jabor, nem eu que sou mais novo mas entalado entre duas noções, por isso digo, not so wrong, not so right, me resta o alento de saber que em tempos escuros se formou gente como Caravaggio que não gosto, mas também Rembrandt, eu quero ser Rembrandt quando crescer, há uma luz naquelas sombras, mas há também em Olafur Eliasson, not so wrong, not so right. On the Wall. Val
Ao apagar das luzes, fui ver a Bienal. Quase não escrevo sobre ela, mas não aguentei, apesar de não ser crítico de arte. A sensação dominante que tive foi de ruínas ou de despejos da civilização. Saí triste. Os trabalhos repetem os mesmos códigos e repertórios: terra arrasada, materiais brutos e sujos, desarmonia, assimetria, uma vergonha de ser "arte", vergonha de provocar sentimentos de prazer. A fruição poética é impedida, como se o prazer fosse uma coisa reacionária, "alienada", ignorando o "mal do mundo", que tem de ser esfregado na cara do espectador para que ele não esqueça o horror que nos assola.
Há um propósito de evitar qualquer transcendência artística. Um crítico escreveu: "O paradigma romântico foi desmantelado no século 20, porque apresenta a arte como algo universal, acima da realidade social e política."
Ou seja, a razão maior da arte, que é justamente esse mistério que aponta para "as coisas vagas" (como escreveu Paul Valéry) sem as quais não há reflexão poética ou filosófica, foi jogada fora, em nome de uma racionalização criada para substituir nossa impotência política real.
Fui andando pelo pavilhão maravilhoso do Niemeyer, pensando que o edifício "modernista" era superior a qualquer panfletinho ali exposto.
Pensei que o império da sordidez mercantil, a ignorância no poder, o fanatismo do terror, a boçalidade cultural, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além do alcance crítico de qualquer "denúncia" artística. Não adianta mais "chocar" ou "conscientizar" ninguém. Nada que haja na Bienal nos choca mais que homens-bomba explodindo discotecas ou a fome na África ou a lama das favelas e periferias. Nada. Os gestos enraivecidos da antiarte nem arranham a pele do mundo. Nesta Bienal vi um parque temático de deprimidos, um muro de lamentações inúteis - a melancolia como "denúncia" de uma vida sem solução, quando a grande crítica ao Ocidente é feita pelos terroristas islâmicos. A infeliz sentença de Stockhausen chamando o 11 de Setembro de "obra de arte" tem, sim, um bruto fundo de verdade. Nada pode explicar ou evitar aquele horror. Nunca imaginávamos que o século 21 seria parecido com o século 7.º, quando Maomé se declarou o único profeta.
Intelectuais e artistas vivem em pânico, pois o tempo de sínteses se extinguiu. Os acontecimentos estão incompreensíveis e, no entanto, óbvios demais. Claro que os artistas contemporâneos não podem ignorar o horror do mundo e têm de acusar o golpe. Sim, mas mesmo em tempos terríveis, há que se buscar alguma transcendência, esperança e vitalidade.
Tropeçando em perigosas "instalações", pensei que a morte da "aura" da arte é menos aceita do que pensávamos. Hoje, muitos artistas se veem como ex-profetas abandonados e passaram a usar a luz da "aura" como um halo, como uma coroa de espinhos para sua solidão. O artista quer virar obra de arte. E tudo faz para esquecer seu abandono, mesmo que seja expor seus excrementos numa latinha. E vemos que ele não abriu mão da representação, mas cultiva-a ao avesso da beleza, como uma doença favorita. Ele é a representação, ele é a paisagem.
Acho que nesta desistência da arte transcendental há um complexo de inferioridade diante da tecnociência, que está avassalando nossas vidas. Nietzsche não concordaria: "A arte é mais poderosa que a Ciência, pois ela quer a vida, enquanto o objetivo final do conhecimento é o aniquilamento." Nietzsche escreveu isso no fim do século passado, querendo dizer que, por trás da busca científica e racional da verdade, mora o desejo da morte, de esgotamento da vida, por uma letal explicação de tudo.
Claro que não tenho nível para aprofundar este tema; mas temos hoje esta metástase digital hipertecnológica ao lado de um indigente, tuberculoso, desempenho artístico do mundo. Temos de um lado o mercantilismo escroto de Hollywood, dos teatrões, das galerias chiques ou dos best-sellers. Do outro, a solidão melancólica das Documentas, os bodões negros dos guetos da revolta "oficial".
Sem dúvida, a grandeza da arte contemporânea é de se misturar à vida, sem suporte, mas sem negá-la de fora, atacando-a com rancor por sua falta de sentido claro. Nisso, o WikiLeaks mata a pau.
Movidos pela ideia socrática de que a arte tem de ser subordinada à Razão, os artistas caíram numa denúncia melancólica das impossibilidades. Não há futuro para esta ideia de arte, seja ela digital, mercantil, iluminista ou o cacete a quatro. A celebração dionisíaca do existir não pode ser considerada frescura ou alienação.
Prevaleceu a vertente "triste" do modernismo, a vertente "conceitual" que joga sobre o "mal do mundo" apenas uma ideologia nevoenta de condenações sem nome, apenas uma arte enojada contra o mal-estar da civilização.
Por que a melancolia seria mais profunda que a alegria? Como explicar Fred Astaire, Busby Berkeley, Cantando na Chuva, a arte pop, o jazz? Depois do pop, será que uma "aids conceitual" não atacou tudo, depauperando a luta? Será que não se esgotou a denúncia do feio pelo "mais feio", que odeia a vida real, por adesão a um impossível finalismo? O "novo" não poderia ser um "belo" que denuncia, com sua luz, a injusta vida?
Precisamos de arte, como uvas e frutos e danças e como um coro de Silenos, de Dionísios, pois a ciência e a razão estão querendo chegar até os ossos da "essência". A arte é a ilusão aceita, a clareza feliz de que a aparência é o lugar do humano e que só nos resta essa hipótese de felicidade num planeta gelado. Não a arte-espetáculo, mercadoria de ver, mas a arte como ritual de embelezamento da vida. Nietzsche: "A ilusão é a essência em que o homem se criou."
Lembrei-me então de uma frase de Stravinski: "A obra de arte deve ser exaltante." E uma de Artaud: "A arte não é a imitação da vida; a vida é que é a imitação de "algo" transcendental com que a arte nos põe em contato." Por isso, não gostei da Bienal.
Not so wrong, not so right. Apenas meros espasmos de tecidos mortos? Curioso notar, o autor não cita um único pensador desta época, suas modulações são todas regidas por novecentistas transcendentais que em alguma medida nos levaram a nosso estado presente, de toda sorte sinto um reclame sincero, uma maneira legítima de segurar seu mundo que ele vê desabado. Stockhausen constatou corretamente, nossa espetacularidade é espetacular, diria Millor, é nossa forma de fazer cultura falando do mundo nosso de cada dia, vestidos como chineses de Mao com brin azul, economia socialista e senso mental capitalista, e vice versa, a ocasião faz o ladrão de nós mesmos, daí a melancolia, a febre, a metástase cultural, a biologia uniformiza seus fenômenos reativos, a vida é assim, duas cabeças tendem a um cérebro, eu disse isso num trabalho anônimo que jazz em alguma coleção periférica, minha vocação dinossáurica num tempo em que realmente o artista se tornou a obra, isso não é pra gente velha como Jabor, nem eu que sou mais novo mas entalado entre duas noções, por isso digo, not so wrong, not so right, me resta o alento de saber que em tempos escuros se formou gente como Caravaggio que não gosto, mas também Rembrandt, eu quero ser Rembrandt quando crescer, há uma luz naquelas sombras, mas há também em Olafur Eliasson, not so wrong, not so right. On the Wall. Val
11 dezembro, 2010
05 dezembro, 2010
28 novembro, 2010
22 novembro, 2010
O Artista Baiano e Sua Indigência Cultural
Produzir arte para mim implica em revertir-se, contaminar-se de reflexões que busquem responder através das diversas categorias de conhecimento. Com o mundo globalizado, as noções de cultura engendram outro tipo de relação pautada na complexidade que o mundo nos emite na forma de seus trânsitos multiculturais, na diversidade dos muitos fluxos relacionais a que estamos submetidos. Há no mínimo uma confrontação de significados que paira no ar mesmo se falamos de coordenadas bem específicas como as da Bahia.
Ocorre que a grande e estarrecedora maioria dos artistas estão preocupados com politícas culturais, gestões administrativas, partidarismos aclamados e criticados com base numa forma de pensamento e discursos anacrônicos e construídos sob a égide de um primarismo que chega a me exasperar. A única coisa tangível que se enxerga é uma paixão modelada por uma ignorância que começa no assassinato contínuo da língua, e emissões de um pensamento de tal primarismo que sinto vergonha do que tenho lido. Os artistas baianos estão nus, e são solitários precisamente pela nudez que implica o nível de seus conhecimentos, a forma como tratam cultura e se arvoram a querer mudá-la sem antes fazer um exame lúcido de suas limitações. Ficam pendurados e dependentes no opium do FACEBOOK por suas carências de representatividade, e só conseguem encontrar culpas e imperfeições no outro, ou outros. Há um mundo a ser explorado, uma árdua e dífícil tarefa que passa pelo indispensável exercício de aquisições de saber. Quixotes movidos a intuições perdidas no tempo e nos espaços de sua doentia ignorância eivada pela vaidade insistente que ser artista é apenas produzir imagens inócuas baseadas em seus desejos básicos de existir. A disseminação da idéia de que há culpas em todos os lugares, mas nenhum movimento que caracterize um exame de consciência de como cada um tem operado: a pergunta diante do espelho, que merda sou eu, que merda tenho feito? Que pertinência meus choros e quixumes pode representar como contributo para aquilo que desejo? Nennhum, nenhuma. O artista baiano é uma piada de mau gosto, e aqueles que se elevam acima das generalidades foscas, são acusados de apaniguados, ou mafiosos. Puta que o pariu, vão estudar cambada de ociosos mentais, depois venham fazer política, reinvindicar algo que seja preciso, voces não consomem um parágrafo de história da arte por semana e querem fazer história, jamais farão desta formaa, serão esquecidos ao apagar de cada sessão no Facebook.
20 novembro, 2010
15 novembro, 2010
14 novembro, 2010
23 outubro, 2010
21 outubro, 2010
28 setembro, 2010
27 setembro, 2010
Eu lido com a arte e sua história. Há um campo gravitacional que me atrai a seus múltiplos significados, procuro usá-los não para dá-los novos sentidos, mas para estender minha compreensão dos novos sentidos que temos no mundo atual. Aqui nos defrontamos com um problema que acomete a arte contemporânea e é possível que esteja aí base de sua crise. Aliás, é difícil pensar a arte de hoje sem o componente de crise. Gosto parcialmente de uma idéia de George Steinner, que estabelece a distinção entre criação e invenção. A idéia não é simples, e toma como base a presença da obra de Marcel Duchamp. Mas antes, ele associa a idéia de criação ao divino; com a presença de Duchamp ocorre a dessacralização da arte que passa a ser operada como invenção, distante da historicidade, da magia, do talento, do autoral. O próprio Duchamp chamou a atenção para certos comedimentos que um artista deveria ter ao usar, por exemplo, o recurso do Ready Made. Penso que ele intuía o caos que a própria invenção poderia resultar. O mundo se tornou demasiadamente complexo, e extremamente visual, não sei se ele precisa de novos sentidos, ou como é usual dizer, ressemantizações. Parece paradoxal, sou um artista com a reputação de contemporâneo, no entanto refuto certos métodos que para mim desumanizam a arte, ou a torna vítima de ansiedades dos próprios artistas e todo o staff em que ela é hoje articulada como objeto de consumo. Mas é preciso afirmar que não desprezo nenhum método, minha implicação diz respeito a certa “academização” que a arte contemporânea empunha.
Assinar:
Postagens (Atom)