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27 setembro, 2010


Eu lido com a arte e sua história. Há um campo gravitacional que me atrai a seus múltiplos significados, procuro usá-los não para dá-los novos sentidos, mas para estender minha compreensão dos novos sentidos que temos no mundo atual. Aqui nos defrontamos com um problema que acomete a arte contemporânea e é possível que esteja aí base de sua crise. Aliás, é difícil pensar a arte de hoje sem o componente de crise. Gosto parcialmente de uma idéia de George Steinner, que estabelece a distinção entre criação e invenção. A idéia não é simples, e toma como base a presença da obra de Marcel Duchamp. Mas antes, ele associa a idéia de criação ao divino; com a presença de Duchamp ocorre a dessacralização da arte que passa a ser operada como invenção, distante da historicidade, da magia, do talento, do autoral. O próprio Duchamp chamou a atenção para certos comedimentos que um artista deveria ter ao usar, por exemplo, o recurso do Ready Made. Penso que ele intuía o caos que a própria invenção poderia resultar. O mundo se tornou demasiadamente complexo, e extremamente visual, não sei se ele precisa de novos sentidos, ou como é usual dizer, ressemantizações. Parece paradoxal, sou um artista com a reputação de contemporâneo, no entanto refuto certos métodos que para mim desumanizam a arte, ou a torna vítima de ansiedades dos próprios artistas e todo o staff em que ela é hoje articulada como objeto de consumo. Mas é preciso afirmar que não desprezo nenhum método, minha implicação diz respeito a certa “academização” que a arte contemporânea empunha.