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09 fevereiro, 2011

A Escultura de Antônio Carlos Magalhães por Vauluizo Bezerra

O blog Pura Política cujo link de acesso http://purapolitica.com.br/noticias_view.php?id=1741 veicula notícia sobre algumas observações que fiz no Facebook sobre ter sido contratado por uma empresa da família do ex-Deputado, Governador e Senador Antônio Carlos Magalhães. O Pura Política cita meu blog e percebi que as pessoas têm vindo observar algum conteúdo sobre o assunto. Aproveito a oportunidade para fazer um breve relato desta experiência que no mínimo reflete um desrespeito contra um artista.
Alguns meses após a morte de ACM fui contatado pela empresa de engenharia Santa Helena, grupo do holding da família para tratar de uma escultura do político baiano a ser assentada em sua lápide. Ficou firmado o acordo regido por um contrato que entre suas cláusulas, a parte que descumprisse qualquer dos itens teria como encargo uma multa estipulada no dobro do valor total da escultura.
Fazer um retrato em escultura de alguém que viveu 70 anos, de forte presença pública, implica em certos cuidados cujas pessoas que trataram comigo não tinham o mínimo de particularidade com o assunto. Foi-me delegada a responsabilidade de escolher a idade que me pareceu mais representativa iconograficamente, isto é, entre 55 e 65 anos, idades cujo viço físico caracterizasse o vigor pelo qual ACM sempre foi caracterizado.
A escultura foi feita e, de acordo com uma das clausulas do contrato eu deveria entregar uma copia em gesso para apreciação da família entre eles o Senador ACM Jr. e ACM Neto, mais diretores da empresa, o que foi cumprido por mim dentro dos prazos fixados. A escultura foi aprovada e fiquei no aguardo da sinalização para tirar a cópia definitiva em bronze como regia o contrato. Depois de algum tempo recebi a ansiosa visita de um dos interlocutores da empresa solicitando a cópia em bronze num espaço de dez dias, pois seria comemorado o primeiro ano de morte de ACM. Avisei-o de que seria impossível: primeiro porque na Bahia não há fundição de bronze, segundo porque a natureza processual da técnica exigiria no mínimo um mês. Diante da aflição do emissário sugeri que a única solução seria fazer uma cópia em resina e fibra de vidro com uma pintura que desse a impressão de bronze para efeito da inauguração e, que tal solução deveria ser transitória, pois a tinta não suportaria a ação do tempo, além de frisar que tal cópia era extra contrato cuja produção teria que ter um valor adicional, para depois confeccionarmos a cópia em bronze e eu receber a terceira parte do meu pró-labore, ou seja, meu pagamento considerando que as duas primeiras parcelas viabilizaram apenas a produção física da peça ficando de fora meu trabalho como artista.
Passaram-se alguns meses e cobrei o término do trabalho. Responderam-me da forma mais patética e insensível que se pode tratar um profissional: “Vauluizo, todos gostaram da peça, menos a viúva. Ademais, mudaram-se os planos, resolveram fazer um mausoléu e sua escultura não terá função no novo projeto”. Eu argumentei que existia um contrato que estava sendo lesado, que gostaria de resolver o problema sem uso jurídico, que gostar ou não gostar era uma prerrogativa da viúva e, que não me interessavam seus motivos subjetivos afetivos. Fui repreendido brandamente pela ironia.
Para finalizar, digo que fui contratado para fazer uma escultura em bronze, e que cada peça que um escultor faz, sobretudo um retrato de gestões acadêmicas como é o caso aqui, tem uma implicação que recai na própria natureza dos materiais. Modelei um retrato de ACM para bronze polido, pelas emergências alheias a mim entreguei uma cópia em resina mascarada de bronze que nunca terá a nobreza pela técnica que fui contratado e não pago. A isso chamo de calote, coisa que Antônio Carlos Magalhães jamais teria desferido contra um artista pois sempre foi sensível a estes e, inteligentemente sempre capitalizou no universo da arte e da cultura, muitas das qualidades do político que foi.
Vauluizo Bezerra

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